Estudos científicos ao redor do mundo têm reforçado uma relação curiosa e poderosa: o convívio com animais de estimação pode contribuir para o fortalecimento do sistema imunológico humano, especialmente durante a infância. A explicação para isso está no impacto que os microrganismos presentes nos pets causam em nossos corpos.
A descoberta ganhou força com um estudo realizado nos Estados Unidos, que comparou comunidades rurais Amish e Huteritas. Ambas vivem em áreas agrícolas, têm origens semelhantes e se alimentam de forma natural, mas apenas os Amish mantêm contato direto com os animais desde cedo. O resultado foi significativo: as crianças Amish apresentaram taxas de asma e alergias muito menores do que as Huteritas.
A diferença parece estar na exposição precoce a micróbios presentes em animais e no ambiente rural. Pesquisadores descobriram que crianças Amish possuem células T reguladoras mais bem desenvolvidas. Elas são responsáveis por moderar respostas imunológicas exageradas, comuns em casos de alergias e doenças autoimunes.
Jack Gilbert, professor da Universidade da Califórnia em San Diego e cofundador do American Gut Project, explica que crescer em uma fazenda pode reduzir em até 50% o risco de desenvolver asma ou alergias. Mesmo ter um cachorro em casa pode proporcionar uma redução de até 14% no risco dessas doenças.
“Não é uma cura universal, e toda vez que dou uma palestra sobre isso, alguém diz: ‘Olha, eu cresci em uma fazenda e tenho alergia’, mas sabemos que se você crescer interagindo fisicamente com animais de fazenda, vai ter uma redução de cerca de 50% na probabilidade de desenvolver asma ou alergias”, afirma Gilbert. “Mesmo que você cresça apenas com um cachorro em casa, você vai ter uma redução de 13% a 14% no risco”, acrescenta em reportagem publicada pela BBC Future.
Essas descobertas levaram cientistas a investigar se os pets funcionariam como uma espécie de “probiótico natural“, promovendo uma microbiota mais saudável nos donos. Embora ainda não haja provas conclusivas de que os micróbios dos pets se fixem no nosso organismo a longo prazo, a exposição contínua a esses microrganismos parece estimular o sistema imunológico de forma benéfica.
Estudos complementares também demonstram que crianças que crescem em lares com múltiplos animais têm menor risco de desenvolver doenças como rinite, eczema e asma. Esse fenômeno foi apelidado de “efeito minifazenda”.
Pesquisas em comunidades indígenas e grupos como os Irish Travellers, que ainda vivem próximos a animais, revelaram microbiomas semelhantes aos de povos antigos, com menor incidência de doenças autoimunes. A convivência constante com uma diversidade microbiana parece preservar uma resposta imunológica mais equilibrada.
Além dos microrganismos, fatores indiretos também contribuem. Ter um pet em casa estimula a prática de atividades ao ar livre, como passeios em parques e contato com a natureza, ambientes ricos em bactérias e fungos que ajudam a treinar o sistema imunológico.
Especialistas defendem que, embora os pets não sejam uma “cura” para problemas imunológicos, seu papel como aliados na saúde preventiva é inegável. A convivência com animais pode ser especialmente benéfica para crianças, promovendo uma imunidade mais robusta e diminuindo o risco de doenças relacionadas a desequilíbrios no microbioma.
Em tempos em que os distúrbios imunológicos têm se tornado cada vez mais comuns, talvez a resposta para fortalecermos nossas defesas esteja mais próxima do que imaginamos, de quatro patas, dentro de casa.
